Eu gosto de olhar pra dentro e saber que aqui estão todos os meus momentos especiais. Guardados, preservados, protegidos da ação cruel do tempo que torna coisa corriqueira todas as novidades, em questão de minutos. Eu gosto de saber que aqui, onde ninguém alcança, estão escondidas as tantas alegrias que vivi, meus dias de vitória, os sorrisos que me deram, os elogios que recebi, todas as lembranças que minha memória foi capaz de armazenar. Eu gosto de saber que as pessoas que partiram permanecem em mim numa canção, num cheiro, numa imagem fotografada pelos olhos e para sempre impressa no coração. Eu gosto dessa possibilidade de recolher com as mãos os instantes mais singelos e me emocionar com eles sempre que quiser. Mas o que eu mais gosto é notar aqui dentro um leve tremor de euforia quando sinto que coisas boas estão pra acontecer. É como se a alma identificasse de longe o vento que balança as cortinas quando é tempo de sorrir. É como se o universo encontrasse um jeito de me dizer que tudo vai ficar bem novamente. É como se eu soubesse, de uma maneira inexplicável, que sempre vai ser assim. Ainda bem.